quarta-feira, 13 de abril de 2011

Crítica de Teatro: Por Fernando Athur Lobinho de Fretas Neves

Por Machado de Assis, Carlos Correia Santos traz à tona o universo dos personagens sem voltar ao tema da fonte de inspiração, o autor quer associar sua construção literária ao pai da literatura brasileira, este mote pode até ser arrogante, mas sempre é uma empreitada a merecer atenção. Joyce com seu Ulisses fez o percurso da vida em um único dia de um o judeu em Irlanda, concorrendo para demonstrar o acento da Odisséia na transmutação das experiências humanas no tempo, sendo elas mesmas colagens sobre um enfado tornado irregular e quotidiano.


O final feliz quase trágico da condenação do personagem Queiroz a pairar eternamente como a criatura deu uma solução previsível no texto, pois as tiradas sherloquenas não são as mais refinadas, contudo o objeto não é esconder-se por trás de falsas pistas, antes o inesperado não está na seqüência da trama. A concorrência sobre a fama dos personagens machadianos foi ampliada para o hipertexto das novelas televisivas às teses de doutorado, porém não chega a explicitar a polêmica com a crítica teatral seja do século XIX, ou de nossa contemporaneidade um século depois.


O detetive Queiroz, ou d’Equeiroz, não era Eça de Queiroz, o anverso, às vezes, adverso do Machado de Assis como informa o autor como obrigação ao jogo de palavras insistente no fluxo da peça. Perscrutando as pistas do assassinato, Queiroz se vê assombrado por sua professora Lina ao relembrar o horror mais que o desdém pela obra machadiana. Machado também obsedou Queiroz quando elaborou sua crítica à obra PRIMO BASÍLIO, na qual graceja o encerramento da lição - não se deve confiar em empregados.


Esta virulência teria comprimido Queiroz, desta vez, Eça de Queiroz, a furtar-se de publicar romances por quase quinze anos. Os tantos outros usos de Machado ficaram postados por Sidney Chaloub ao analisar o escritor; sustenta um intento não previsto, o Machado historiador como assinala nas relações sociais as mulheres e os espaços das relações de dependência e clientela no mundo da corte dos oitocentos, um emulo do tempo e dos acontecimentos da condição de Machado de Assis.



Ligar os agentes ficcionais de outrora com suas representações no presente contou com o espectro daqueles circulando na atualidade seja como tipo-ideal, seja literal. Este artifício engendrou espírito à narrativa ao conceber as rivalidades dos protagonistas das obras segundo a classificação do bom gosto literário. Conforme se vê: o privilégio por Capitu, cujo sufixo Lina, traveste-se com alguns volteios em Capitulina, esta excedendo em importância à Helena considerou um sentimento de escolha do leitor especializado sobre o neófito, terminando por ratificar o pressuposto do drama psicológico à novela romântica televisiva.


Ato continuo, se há loucos no mundo, a quem cabe dizer quem é são? O Dr. Bacamarte. Este personagem ou assassino, quem sabe? Alinha-se à Capitu na construção do enredo cuja prisão de Queiroz é a liberdade do escritor, mais que a do leitor, pois estamos seguindo os passos deste último no inquérito do assassinato de um imortal.
O revezamento dos personagens em três atores foi uma saída rica para testemunhar a negação do masculino ao proferir uma premência do feminino, porém isso não obsta outra montagem quando poderemos ver atrizes investidas desta tarefa a descortinar o véu da leitura como um par da encenação da prosa machadiana.



Ao tratar Queiroz como Casmurro, outro a mais, percebemos o nascimento do personagem, por contingências do contato, o horror a literatura de Machado fez dele uma vítima, melhor, o protagonista da narrativa, o assassino então? De início o ator não conseguiu demonstrar essa vicissitude, a condição bonachona do gordo favoreceu ao seu encontro com o idiota despertado à consciência por maldizer e rasgar o livro. Por reencarnações constantes, os personagens usam a ferramenta teatral para acelerar a conversão do espírito em carne e vice-versa. A macumba, desculpem..., a cultura de receber espíritos foi relevante e sintonizada com o tempo presente, esta argúcia não creio encontrar no imortal nos textos que conheço.


O espetáculo entrelaça os enredos de Helena, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Alienista e Dom Casmurro na vibrante teia da comédia, quando a encenação do texto foi um vaticínio à imortalidade arrancada da cômoda leitura para disputa da interpretação bem orquestrada pela direção de Luís Fernando Vaz sobre o Coletivo Parla Palco.


Se houve muitas incompreensões com o teatro de Machado de Assis, qualificando-o de inferior no conjunto da obra, o mesmo não se pode dizer dos contos e romances. Gabriela Maria Lisboa Pinheiro nos oferece uma lente para captar Machado, sua estética e seu tempo ao erigir em juízo a evolução do autor em combinação com as transformações do temário das em comédias de costume para o teatro realista. Por fim, a música ficou pastiche sem encontrar a alma da peça.
De 15 a 18/04 volta à cena no teatro Claudio Barradas, a cidade merece assistir.

Um observador no teatro.

Um comentário:

  1. Assisti e também gostei. Algumas soluções cênicas se mostraram interessantes, como o revezamento de três atores pelo universo dos
    personagens masculinos e femininos.

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