quarta-feira, 28 de abril de 2010

Assediado por Serra, PP continua no governo, mas fica longe de Dilma

Além dos tropeços na campanha da pré-candidata Dilma Rousseff (PT), o governo federal deverá amargar a declaração de independência do PP na sucessão presidencial. Alvo do assédio da oposição, que deseja seu apoio para a candidatura do tucano José Serra, a Executiva do PP se reúne hoje para dar o primeiro passo oficial rumo à neutralidade.


A despeito de o PP integrar a base governista e comandar o poderoso Ministério das Cidades, seus dirigentes já avisaram que o partido só formalizará a decisão em junho e tende a dizer não para os dois candidatos. Isso facilitaria a montagem de suas alianças regionais, ora com o PT, ora com o PSDB.

Ontem mesmo, o governo já acusou o golpe. E reagiu. Os recursos federais para bancar as emendas dos parlamentares aliados começaram a ser pagos, numa tentativa de acalmar a base. A liberação da cota de R$ 3 milhões por parlamentar estava atrasada havia um mês.

"Não há o que fazer agora. A hora é de paciência, canja de galinha e sangue de barata", diz o líder do PP na Câmara, João Pizzolatti (SC), que aposta na neutralidade do partido, mas adverte que o que move todas as legendas é a expectativa de poder.

"Não morremos de amor por ninguém. Vamos ver o que é melhor para o projeto do partido e isso vale nas parcerias estaduais e para a aliança nacional ", conclui o deputado Antônio Cruz (MS), que ontem discutiu a questão das coligações com o líder.

Frustração. Se for confirmada, a neutralidade frustrará os planos dos dois candidatos. Do lado de Dilma, o governo já dava como certa a coligação com o PP de Márcio Fortes, que comanda a pasta das Cidades, dona de um orçamento de R$ 15,2 bilhões para este ano, incluindo muitas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Do lado da oposição, os tucanos vinham acenando com a vaga de vice na chapa de Serra para o presidente nacional do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), de olho na fatia que o partido terá no horário de propaganda eleitoral gratuita. Sozinho, o PP deverá ter direito a 1 minuto e 20 segundos no tempo de TV destinado às candidaturas presidenciais.

Como a aliança em torno de Dilma reúne os dois maiores partidos do Congresso (PMDB e PT), além de outras legendas, sua campanha na televisão disporá de algo em torno de dez minutos em cada um dos dois blocos diários de propaganda em rede nacional. Sem o acordo com o PP, Serra terá cerca de sete minutos. Além disso, por Dornelles ser parente do ex-governador de Minas Aécio Neves, sua entrada na chapa ajudaria a colar mais a campanha de Serra no político mineiro.

"É claro que houve uma aproximação do PSDB. A oportunidade de termos o Dornelles na vice deixa o partido muito envaidecido, até porque, dessa forma, não entramos em uma aliança como coadjuvantes", admite Pizzolatti, que participa da coordenação da campanha de Dilma.

Diversidade. Na prática, o PP caminhou para a solução da neutralidade pela diversidade de seus acordos regionais. Do lado de Dilma, estão, por exemplo, Márcio Fortes que participou domingo, no Rio, do lançamento da candidatura ao Senado do petista Lindberg Faria. Com Serra, já é possível contabilizar o diretório mineiro, que deverá ocupar a vaga de vice-governador na chapa tucana que terá como candidato o governador Antônio Anastasia.

Outros diretórios do PP que têm pesado contra o apoio explícito ao PT são os dos Estados do Sul. Ontem, foi aberta negociação em Santa Catarina, em busca de acordo unindo os palanques da senadora Ideli Salvatti (PT) e da deputada Ângela Amin (PP).


A IMPORTÂNCIA DO MINISTÉRIO DAS CIDADES


Minha Casa Minha Vida
Um dos principais programas lançados no ano passado, alcançou 408.674 contratações de moradias em um ano, o que representa um volume de investimentos de R$ 21,5 bilhões

PAC para a Copa
O PAC destinará cerca de R$ 7,78 bilhões para obras de mobilidade urbana que facilitem a realização da Copa de 2014

PAC Cidade Melhor
Incluído no PAC 2, terá investimentos de R$ 57,1 bilhões, tendo seus programas voltados para saneamento, prevenção em áreas de risco, mobilidade urbana e pavimentação de 2011 a 2014

Urbanização de Favelas
O PAC inclui R$ 8,7 bilhões para urbanização de favelas

Água e Luz Para Todos
Terá R$ 13 bilhões em obras de ampliação dos sistemas de abastecimento de água, com construção de adutoras, estações de tratamento, reservatórios, além de substituição de redes de distribuição e da modernização dos sistemas de medição

CBTU
O Ministério das Cidades controla a Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), presidida por Elionaldo Magalhães, indicado para o cargo na cota do PP de Alagoas

Trensurb
O ministério controla também a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A., responsável pelo transporte de 44,4 milhões de passageiros em Porto Alegre e na região metropolitana
em 2009

Christiane Samarco e Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Oposição tenta corrigir erros para voltar ao poder

Após derrotas de 2002 e 2006, líderes do PSDB e do DEM querem evitar agora brigas internas e a dispersão das forças eleitorais.

Nas campanhas anteriores, disputas e desentendimentos entre alguns dos principais representantes do PSDB e DEM minaram as chances de sucesso eleitoral nas corridas presidenciais. Foi o caso, por exemplo, do processo de disputa interna do PSDB que acabou definindo o então governador Geraldo Alckmin como candidato à Presidência em 2006.


Naquela disputa o então prefeito da capital José Serra era a opção considerada mais lógica até por adversários. Apontado como tendo maior potencial eleitoral para barrar a reeleição de Lula, Serra demorou a definir sua candidatura e acabou sendo surpreendido pela movimentação de bastidores de Alckmin. Escolhido candidato de uma oposição dividida e desinteressada, o tucano não teve fôlego para impedir a vitória do PT.

Divisão semelhante já havia ocorrido em 2002, quando Serra foi apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para sucedê-lo, mas perdeu o apoio formal do tradicional parceiro PFL, que tinha cedido o candidato a vice nas duas campanhas anteriores. Os pefelistas enxergaram a mão do PSDB paulista na implosão da pré-candidatura presidencial de Roseana Sarney e não se empenharam por Serra.

De quebra, Serra enfrentou o descontentamento do cearense Tasso Jereissati, também interessado em concorrer, e que reclamava da falta de discussão interna para a definição do candidato. Com pouco jogo de cintura dos dois lados, os tucanos de São Paulo e do Ceará ficaram distantes durante toda a campanha e a derrota foi questão de tempo.

Agora, líderes da oposição como os próprios José Serra, Tasso, Alckmin, Cesar Maia e o mineiro Aécio Neves adotam linha mais conciliatória nas relações e na formação de alianças justamente para evitar estragos políticos ocorridos anteriormente.

Mandato. Foi o que aconteceu n o processo de costura da aliança entre Serra e Aécio, por exemplo, mesmo depois que o ex-governador mineiro perdeu a corrida para se tornar candidato à sucessão de Lula. Serra acenou com o apoio ao fim da reeleição presidencial e de um mandato único de cinco anos, o que, em tese, reduziria o tempo de espera de Aécio para concorrer à Presidência. Além disso, ofereceu ao mineiro a vaga de vice-presidente e a ocupação de espaços estratégicos dentro de seu governo, caso seja eleito.

Serra tem procurado também atrair para seu lado antigos parceiros políticos do PSDB. O ex-presidente Itamar Franco (PPS) tem sido afagado pelo tucano, de quem nunca foi próximo, em busca de uma aliança que reforce sua presença em Minas.

A razão para essa mudança de comportamento é uma só: o instinto de sobrevivência. A oposição recebeu análises feitas por especialistas dando conta de que a eleição deste ano poderá ser a mais estratégica para seu futuro.

Se Dilma Rousseff vencer, garantirá ao PT seu terceiro mandato presidencial consecutivo e a perspectiva de poder eleger Lula para mais dois mandatos seguidos, a partir de 2014. Caminharia, assim, para concretizar um projeto de poder de vinte anos.

Natural. Para Cesar Maia (DEM), ex-prefeito do Rio e que também adota tom conciliatório para garantir no Estado a aliança em torno de Serra, o processo de boa vontade a oposição foi natural.

"É sempre assim. Na oposição, as diversas forças se juntam mais. Lembre-se da máxima: a esquerda só tem unidade na prisão. Mas o processo na oposição foi mais lógico. Alguma espuma pelo Serra manter-se calado em 2009 sobre candidatura. Mas nunca foi questionada sua capacidade e liderança no processo, mesmo quando se discutia a eleitorabilidade de Aécio", avalia.

A tarefa da oposição tem sido facilitada também pelo fato de se reunir em torno de apenas três partidos (PSDB, DEM e PPS), formando alianças regionais pontuais com outras legendas. Para o governo, apoiado por mais de dez partidos, se tornou impossível conciliar todos os interesses regionais.

Marcelo de Moraes de Brasília - O Estado de S.Paulo

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O rombo está aumentando

* Celso Ming

O rombo das contas externas brasileiras (déficit em Conta Corrente) não é problema e é problema. Depende de muita coisa.

Muitas vezes os economistas discutem esse déficit ou como um grave perigo a enfrentar ou como ameaça apenas imaginária, uma espécie de cuca, a malvada, que aparece de noite na cama das crianças, especialmente na das malcomportadas.

O debate sem a necessária objetividade começa dentro do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, age e às vezes reage como se fosse um problemão. Mas lhe falta coragem para reconhecer que, em sendo problema, tem mais a ver com a esticada das despesas públicas, área de jurisdição de seu Ministério.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por sua vez, quer sempre se defender dos ataques à política cambial comandada por ele e, por isso, tende a argumentar que o atual déficit é prova de saúde econômica, porque conta com a cobertura dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs), sinal de confiança. Mas Meirelles também evita mencionar que esse déficit tem a ver com excesso de despesas do governo federal.

Antes de ir em frente, convém passar um pano de pó nesse conceito. As Contas Correntes são o pedaço do balanço de pagamentos que inclui as transações pagas ou recebidas com o exterior. Só ficam de fora os fluxos de capital. Fazem parte o comércio exterior (exportações e importações), os serviços (juros, turismo, etc.) e as transferências unilaterais (como as remessas que as famílias fazem aos filhos que estudam no exterior).

Em geral, quem semeia o medo da cuca pensa logo em câmbio fora do lugar e argumenta que o déficit está subindo porque o dólar barato demais derruba as exportações e, ao mesmo tempo, inibe as importações. Por isso, é preciso desvalorizar urgentemente o real.

Em geral, quem argumenta que esse saldo negativo não mete medo aponta, como já disse, para a Conta de Capitais e avisa que os IEDs vêm sendo mais do que suficientes para cobri-lo e, por isso, não é preciso mexer no câmbio.

Apenas parte da expansão desse déficit tem a ver com a queda das exportações e, nesse sentido, o câmbio não leva culpa nisso. Nos últimos meses, foi a crise que encolheu o mercado externo. A maior fatia desse déficit tem a ver com o aumento do consumo interno (de 10% ao ano), que reflete a expansão das despesas públicas, que cria renda, reduz o excedente exportável e aumenta as importações. Qualquer principiante em Economia sabe que déficit em Conta Corrente está quase sempre relacionado com aumento do consumo e redução da poupança.

A questão de fundo consiste em saber se a atual expansão do rombo deixa a economia vulnerável e quanto. O atual déficit é de 1,8% do PIB, bem menor que o de mais de 6% do PIB registrado no início dos anos 80, quando o Brasil quebrou duas vezes. Além disso, sua qualidade é diferente, na medida em que pode ser coberto com capitais de investimento e não mais com dívidas de curto prazo que enforcavam o País. O que é grave e insustentável é a expansão das despesas públicas, hoje a nada menos que 17% ao ano.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Há 25 anos começava o "Nuremberg" Argentino

Quepe do almirante Emilio Massera sobre a mesa do banco dos réus no julgamento de 1985
Na mesma semana em que o último ditador argentino, o general Reynaldo Benito Bignone, foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a Humanidade – e enviado a uma prisão comum – os argentinos comemorarão hoje, quinta-feira, um quarto de século do início do julgamento dos principais líderes das juntas que governaram a Argentina durante a ditadura militar (1976-83). O inédito julgamento de ex-ditadores na América Latina foi denominado em todo o mundo de “o Nuremberg argentino”, em alusão ao julgamento de Nuremberg, que em 1947 condenou os criminosos de guerra nazistas.

A Argentina havia voltado à democracia pouco tempo antes, em dezembro de 1983. O país era governado pelo presidente Raúl Alfonsín (1983-1989), que enfrentava pressões intensas dos quartéis para não “ousar” realizar o julgamento que colocaria no banco dos réus os responsáveis pelas graves violações aos Direitos Humanos ao longo dos sete anos de regime militar.

Na ocasião, as principais figuras da ditadura, entre elas os generais Jorge Rafael Videla, Roberto Viola, Leopoldo Galtieri e o almirante Emilio Massera, sentaram no banco dos réus para responder à acusação de sequestros, torturas, detenções ilegais em campos de concentração clandestinos, roubo de bens e o assassinato de 30 mil civis, além do ocultação da maior parte dos corpos das vítimas, que ficaram conhecidas como os “desaparecidos”.

O promotor Julio César Strassera disse ao Estado que devido ao número de 10 mil de delitos sobre os quais existiam constâncias, foi necessário focalizar o julgamento sobre os “casos paradigmáticos”. Desta forma, a promotoria apresentou 709 casos, dos quais o tribunal decidiu examinar 280.
O general Videla e o almirante Massera foram condenados à prisão perpétua. Outros, como o general Viola, recebeu a sentença de 17 anos. O julgamento, iniciado em abril, concluiu em dezembro de 1985.

REBELIÕES – No entanto, uma série de rebeliões militares paralisaram o processo das investigações dos restantes crimes da ditadura. Em 1986, um dos levantes dos quartéis obrigou o governo Alfonsín a assinar a Lei de Ponto Final, que determinava um prazo exíguo para a abertura de novos processos contra os militares. Em 1987, outra rebelião forçou o governo a assinar a Lei de Obediência Devida, que eximia os subordinados de qualquer culpa, já que haviam cometido crimes “por ordens superiores”.

Em 1990, o presidente Carlos Menem decretou um polêmico indulto dos líderes militares. Apesar dos perdões presidenciais, organismos de defesa dos direitos humanos conseguiram explorar uma brecha nos indultos, a dos sequestros de crianças. Desta forma, vários militares puderam ser levados novamente à prisão, como o general Videla, detido em 1998 em prisão preventiva.
Em 2005, a declaração de inconstitucionalidade das leis do perdão ao ex-integrantes da ditadura permitiu a retomada de uma série de processos que haviam sido engavetados desde o final dos anos 80.


MILITARES QUERIAM TROCAR JULGAMENTO POR CONFISSÃO

Há 25 anos, no dia 22 de abril de 1985, Julio Strassera tornava-se famoso em todo o mundo ao iniciar as acusações dos ex-integrantes das juntas militares. Um quarto de século depois, aos 77 anos, Strassera recebeu o Estado em seu apartamento no bairro da Recoleta para uma entrevista na qual recordou a tarefa sem precedentes de colocar os ex-ditadores no banco dos réus.
Estado – O julgamento das juntas compara-se ao tribunal de Nuremberg?

Strassera – Este foi um caso único no mundo. Não se compara a Nuremberg, já que esse tribunal foi feito por um exército vitorioso estrangeiro. O julgamento aos integrantes da ditadura na Argentina teve as mesmas necessidades morais de Nuremberg, mas foi superior do ponto de vista jurídico. É que foi a primeira vez que tribunais civis julgaram pessoas que detiveram a somatória do poder público. Isso foi possível graças a uma decisão política (do presidente Raúl Alfonsín). Foi até diferente do caso do julgamento dos coronéis gregos (em 1975), condenados por traição à pátria. Aqui os militares foram condenados por delitos comuns, aplicando para isso o Código Civil. Isto é, sequestros, roubos, assassinatos.

Estado – Dias antes de iniciar pediram-lhe ‘suavizar’ o julgamento?

Strassera – Uma pessoa me ligou e disse que os militares estavam dispostos a confessar em troca de que não fossem julgados por seus crimes nem que eu apresentasse as provas. Além disso, pediam que as vítimas não dessem seus depoimentos sobre as atrocidades. De nada servia uma confissão ôca, do gênero “confesso pelo bem da pátria”. Mandei aos diabos essa proposta…
Estado – O que achou da condenação, anunciada na terça-feira, do general Bignone, o último ditador, a 25 anos de prisão por sequestros e torturas?
Strassera – Sua condenação e envio à uma prisão comum é correta, pois é uma consequência direta dos processos feitos contra o ex-ditador nos anos 80.
Estado – Bignone, antes de ouvir sua sentença, que a ditadura havia combatido “uma guerra” dentro do país contra a “subversão”…
Strassera – Aqui nunca houve uma guerra, nem uma guerra civil, tal como foi na Espanha nos anos 30. E, na hipótese que tivesse sido uma “guerra”, os presos teriam que ter sido colocados como prisioneiros de guerra, e não de forma clandestina..Além disso, em 1975 (um ano antes do golpe) o general Omar Riveros informou a Junta Interamericana de Defesa que a subversão havia sido militarmente destruída e desarticulada. Em 1976, quando começou a ditadura, não havia mais “guerra”. Isto aqui foi similar à uma caça!

Estado – Acha que o esforço feito há 25 anos é reconhecido?

Strassera – O governo da presidente Cristina Kirchner empenha-se em ignorar o julgamento de 1985, enquanto tenta prolongar ao máximo os julgamentos atuais. Os Kirchners querem que os novos julgamentos sejam seu grande trunfo. A oposição apresentou projetos para acelerá-los. Mas o governo sequer se interessou em discuti-los, pois quer aparecer como campeão dos direitos humanos. A verdade é que quando houve o golpe, em 1976, os Kirchners mudaram-se para Santa Cruz (terra natal de Néstor Kirchner) para dedicar-se, como advogados, à execução de hipotecas. Nunca assinaram um habeas corpus para os prisioneiros políticos, ao contrário de outros advogados que tiveram coragem.

Estado – Não teve medo na época do julgamento? Colocou no banco dos réus homens que haviam ordenado torturas e assassinatos…

Strassera – Nunca tive guarda-costas. E não é uma questão de valentia. Veja só o que aconteceu com (a primeira-ministra da Índia), Indira Gandhi, assassinada pelos próprios guarda-costas! Encaramos as ameaças com humor na época. Um dia telefonaram para fazer ameaças. Minha secretária respondeu à pessoa: “olhe, são 10:15 horas…o horário de atenção para ameaças vai de 9:00 às 10:00. Se quiser encaminhar uma ameaça, ligue amanhã” (Strassera ri longamente).

Estado – Por qual motivo os julgamentos não foram transmitidos pela TV?

Strassera – Alfonsín ficou preocupado pela reação da população. “Estas coisas podem comover gravemente a opinião pública”, me disse. É que havia depoimentos impactantes, como a mãe do adolescente Floreal Avellaneda, que foi empalado pelos militares! As coisas que essa mãe relatava! Uma mãe disse que seu filho havido sido pego armando uma bomba. Olhe só: ela não disse que seu filho era um santo. Mas, na sequência, ela disse: “mas ele não merecia um julgamento, tal como este que está acontecendo? Mas, os militares o mataram e me devolveram meu filho na forma de um saco com ossos”. Eram coisas muito graves para que a TV transmitisse todos os dias…

Estado – O que achou das Leis de Ponto Final e de Obediência Devida? E o que pensa do indulto concedido por Menem à cúpula militar?

Strassera – As leis de ponto final e obediência devida são ditadas após duas rebeliões militares. Mas, os indultos foram uma imoralidade gratuita, já que não existiam nem pedidos da sociedade para isso, sequer pedidos setoriais, isto é, dos quartéis. Mas, considero que o ex-presidente Carlos Menem quis ficar bem com vários setores simpatizantes da ditadura, como alguns setores da Igreja Católica, de certos empresários e de vários líderes sindicais. O governo Alfonsín estava contra a parede na época das leis de ponto final e obediência devida. Menem não estava contra a parede…

Estado – No julgamento algum dos réus teve um comportamento sui generis?

Strassera – Videla era esquisitíssimo, pois ficava sentado lendo um livrinho religioso, ignorando tudo o que acontecia na sala. Massera era agressivo. Ele fez um discurso final furioso. E Viola, ao ver que o público aplaudia as sentenças, virou-se para as pessoas e começou a insultá-las com pesados palavrões…

ÚLTIMO DITADOR FICARÁ EM PRISÃO COMUM
Reynaldo Benito Bignone, nos tempos de uniforme de gala, quando presidia o país
O general Reynaldo Benito Bignone, último presidente de fato da ditadura argentina (1976-83), foi condenado na terça-feira a 25 anos de prisão pelos crimes de roubos armados, sequestros prolongados com violências de 29 pessoas, além de torturas a outros 38 civis durante o regime militar no Campo de Mayo, o maior complexo de detenção e torturas dos anos 70 no país. O veredicto foi anunciado no tribunal oral da cidade de San Martín, na Grande Buenos Aires. O tribunal determinou que Bignone não desfrutará da prisão domiciliar, já que terá que ir à uma penitenciária comum.
“Falam nesse tal número de 30 mil desaparecidos…mas nunca demonstraram que foram mais de 8 mil”. disse Bignone, antes de ouvir a sentença. Na sequência, negou os sequestros de bebês, filhos das desaparecidas: “falam em 500 roubos de bebês, mas não chegam a 30 e nenhum deles foi cometido por militares”.
O ex-ditador tentou mostrar a repressão exercida durante o regime como um evento épico, ao exclamar: “a luta contra o terrorismo nos anos 60 e 70 na Argentina foi uma guerra!”.
Além de Bignone foram condenados outros cinco altos oficiais militares e um delegado de polícia por crimes cometidos em Campo de Mayo, o maior complexo clandestino de detenção da ditadura.
Dentro do perímetro de Campo de Mayo funcionavam quatro centros de tortura e uma maternidade clandestina, onde davam à luz as prisioneiras. Após o parto, as mães eram assassinadas, enquanto que os bebês eram entregues a famílias de militares ou policiais sem filhos.
Bignone, uma das principais figuras do golpe de 1976, governou a Argentina entre o fim da guerra das Malvinas, em junho de 1982 e a volta da democracia, em dezembro de 1983. Em 1985 foi julgado e condenado à prisão. No entanto, em 1990 foi indultado pelo então presidente Carlos Menem (1989-99).
Em 1999 foi detido graças à uma brecha no indulto, que não contemplava o perdão pelo sequestro de crianças. Em 2004, com a revogação das Leis de Perdão no Parlamento – e a confirmação dessa medida na Corte Suprema em 2007 – novos processos foram abertos contra Bignone. Em janeiro do ano passado foi novamente ao banco dos réus pela acusação de sequestro, torturas e assassinatos de civis realizados em Campo de Mayo.
Em 1983, poucos meses antes da volta à democracia, Bignone ordenou a eliminação dos arquivos da repressão da ditadura, principalmente aqueles que indicavam o paradeiro dos corpos dos prisioneiros políticos.

DITADURA, UM FRACASSO MILITAR E ECONÔMICO
Na madrugada do dia 24 de março de 1976 uma junta militar derrubou a presidente civil Isabelita Perón. A ditadura, que duraria sete anos – considerada a mais sanguinária da História da América do Sul – teria um saldo de 30 mil civis assassinados nos centros clandestinos de detenção. A ditadura também sequestrou 500 bebês, dos quais somente 101 recuperaram sua identidade até hoje.
O saldo econômico do regime também foi desastroso. Em sete anos de ditadura a dívida externa disparou de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.
A inflação aumentou de 182% anual para 343%.
Além disso, a pobreza cresceu de 5% da população para 28%.
De quebra, a ditadura implantou uma ciranda financeira que intensificou o caos econômico.
E, para complicar, a improvisada administração militar provocou um déficit de 15% do PIB.
Além disso, a ditadura argentina implementou grandes negociatas, entre elas a organização da Copa do Mundo de 1978, cujo orçamento inicial era de US$ 70 milhões. Custo final da Copa: US$ 700 milhões (o valor supera amplamente o custo da Copa realizada na Espanha, em 1982, que foi de US$ 520 milhões).
Na área militar a ditadura implementou uma corrida armamentista com o Chile em 1978. Os dois países, que disputavam o canal de Beagle, quase entraram em guerra. A invasão argentina foi detida graças à mediação do papa João Paulo II.
Quatro anos depois, o ditador Leopoldo Galtieri ordenou uma improvisada invasão das ilhas Malvinas, sob controle britânico, desafiando a primeira-ministra Margareth Thatcher a enviar tropas. A guerra terminou com a estrepitosa derrota da ditadura em dois meses e meio.
Paradoxos: A Ditadura tinha um discurso anticomunista mas continuou vendendo trigo para a URSS e não aderiu ao boicote americano contra as Olimpíadas de Moscou em 1980.

Ditadura fez festival de gastos em armanentos e cabides de emprego em estatais e pouco investimento em infraestrutura

‘GUERRA’ OU REBELIÃO LOCALIZADA?
Os militares deram o golpe e instauraram a ditadura mais sanguinária da História da América do Sul (América do Sul, não América Latina) com o argumento (um dos vários) de que a guerrilha controlava grande parte do país. Segundo os ex-integrantes da ditadura, os militares argentinos implementaram uma “guerra”.
No entanto, trata-se de um exagero para justificar os massacres cometidos durante a ditadura.
A pequena guerrilha argentina, mais especificamente o ERP, dominava às duras penas uma pequena porcentagem da província de Tucumán, a menor província da Argentina.
A magnificação da guerrilha foi útil para os militares e também para o prestígio dos guerrilheiros. A nenhum dos dois lados era conveniente admitir a realidade, de que a área controlada pela guerrilha era ínfima.
Os militares e os setores civis que apoiaram o golpe (e os saudosistas daqueles tempos) afirmavam (e ainda afirmam) que o país estava em guerra civil nos nos 70.
Mas, “guerra civil”, rigorosamente, seriam conflitos de proporções mais substanciais, tais como a Guerra da Secessão dos EUA, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra Civil Russa logo após a proclamação do Estado Soviético, a Guerra das Duas Rosas (Lancasters versus Yorks, na Inglaterra) ou a Guerra Civil da Grécia após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Ainda: a Guerra Civil da Nicarágua, e a de El Salvador. Isto é: bombardeios de cidades, grandes êxodos de refugiados, centenas de milhares de mortos, uma boa parte de um país controlado por um dos lados, e outra parte controlada por outro lado. Isso não ocorreu na Argentina nos anos 70.

Ditadores bizarros: Em setembro de 1980, no governo do general Videla, as autoridades proibiram o uso do livro “O pequeno príncipe” nas escolas, por considerá-lo “subversivo”.
As autoridades também proibiram um livro de engenharia elétrica, o “Cuba electrolítica” (isto é, ‘célula eletrolítica’). Os censores acreditaram que o ‘cuba’ referia-se à ilha caribenha, controlada pelo regime comunista de Fidel Castro.
O general Ramón Camps, que administrava a província de Buenos Aires com mão de ferro, considerava que as crianças filhas dos prisioneiros políticos herdavam, genéticamente, os “cromossomos da subversão”.

PERFIL: Ariel Palacios fez o Master de Jornalismo do jornal El País (Madri) em 1993. Desde 1995 é o correspondente de O Estado de S.Paulo em Buenos Aires. Além da Argentina, também cobre o Uruguai, Paraguai e Chile. Ele foi correspondente da rádio CBN (1996-1997) e da rádio Eldorado (1997-2005). Ariel também é correspondente do canal de notícias Globo News desde 1996.
Em 2009 “Os Hermanos“ recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).
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Estadão.

PSB alega que falta de alianças inviabiliza candidatura de Ciro

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) se reuniu nesta quinta-feira, 22, em Brasília, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também é presidente do PSB, e com o vice-presidente do partido, Roberto Amaral. Durante o encontro, eles apresentaram a Ciro mapas dos Estados mostrando que o partido não tem alianças, o que inviabiliza a candidatura do deputado.
Na próxima terça-feira, 27, haverá uma reunião da executiva do PSB para sacramentar a retirada da candidatura de Ciro. Interlocutores do Planalto afirmam que Ciro “não ajudou”, ou seja, não conseguiu tirar votos de José Serra (PSDB-SP). Além disso, não há hipótese, avaliam os mesmos interlocutores, de Ciro ser o vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT-RS).
Na tarde desta quinta-feira, 22, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem encontro marcado com três governadores do PSB, Eduardo Campos (Pernambuco), Wilson Martins (Piauí) e Cid Gomes (Ceará), irmão de Ciro Gomes. O tema da reunião são as obras da ferrovia Transnordestina, que estão dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas o tema político também deve ser tratado.

Por Marcelo de Moraes- Estadão

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guerra de ações dá a assessores jurídicos status igual ao de marqueteiro

Guerra de ações dá a assessores jurídicos status igual ao de marqueteiro
A mais de três meses do início oficial da campanha para a Presidência da República, os principais adversários nas urnas, PT e PSDB, protagonizam uma "judicialização" do debate político, que tem pautado a retórica eleitoral deste ano. Em meio à guerra de representações, a coordenação jurídica dos candidatos ganhou peso e passou a ter status próximo ao dos marqueteiros.

A ofensiva jurídica levou o presidente do PT, José Eduardo Dutra, a se encontrar com o do PSDB, Sérgio Guerra, para discutirem eventual armistício, recentemente, em Brasília. A conversa não evoluiu e, nos últimos dias, o PSDB ingressou com ações não só contra o PT, mas também contra o instituto de pesquisa Sensus e o sindicato dos professores de São Paulo (Apeoesp), cuja presidência é ligada aos petistas.

Desde janeiro do ano passado, já foram impetradas pela oposição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 12 representações contra o PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff ? a maior parte relacionada à propaganda eleitoral antecipada. Duas resultaram em multas para Lula no valor total de R$ 15 mil.

O PT fez o contra-ataque na Justiça Eleitoral de São Paulo, base política do ex-governador José Serra, pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto. No mês passado, o partido conseguiu suspender a veiculação de uma propaganda do PSDB na televisão, alegando que Serra fazia promoção pessoal ao falar no comercial sobre seguro desemprego.

"Hoje em dia um candidato nem precisa falar tão bem, mas precisa ter um bom advogado", afirmou o especialista em direito eleitoral Eduardo Nobre. "Há uma tendência que vem crescendo de o coordenador jurídico ser cada vez mais importante. Um erro do marqueteiro causa um dano grande. Do advogado, pode ser fatal", completou.

Os partidos já começaram a formar os times jurídicos. Do lado tucano, atuarão a equipe do advogado Ricardo Penteado em parceria com o escritório brasiliense de José Eduardo Alckmin. Os petistas calibram a equipe, que a princípio terá o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos como "consultor". O cotado para gerente jurídico, responsável pela parte operacional, é Márcio Luiz Silva, que foi sócio de José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-advogado do PT.

Costuma-se fechar um pacote eleitoral que, segundo o mercado, chega à dezena de milhões, O valor serve para bancar uma equipe com cerca de dez advogados, o contencioso jurídico e a consultoria estratégica. Também são submetidos aos advogados os programas de rádio e TV ? neste momento ocorrem as brigas com os marqueteiros que entram para o folclore eleitoral.

Além disso, os partidos têm advogados que trabalham nas demandas do dia a dia. O Estado apurou que fora de eleição esse custo é de cerca de R$ 40 mil.

Estratégia. O PSDB tem aproveitado para tentar colar no PT a pecha de partido que não cumpre a lei. Uma das estratégias de ataque é dizer que os petistas não só não cumprem a lei, como zombam da Justiça. Nos discursos de lançamento da pré-candidatura do PSDB, tanto Serra quanto FHC bateram na tecla.

O clima beligerante na pré-campanha deste ano ? a disputa só começa oficialmente em junho, depois das convenções ? ganhou contorno inédito, dizem advogados e especialistas em campanha eleitoral. Geralmente a fase mais "crítica" do embate jurídico só costuma acontecer durante a campanha eleitoral no rádio e na TV, a partir de agosto.

A eleição de 1996 para a Prefeitura paulistana é apontada como um marco na "judicialização". Houve uma guerra nos tribunais, o que culminou em avalanche de direitos de respostas.

Para o advogado do PSDB, Ricardo Penteado, o maior problema é o uso da máquina pública. "Tenho impressão de que a oposição está usando o seu corpo jurídico para atacar a pré-candidata", disse José Eduardo Martins Cardozo, um dos petistas responsáveis por montar o corpo jurídico da campanha. "Talvez estejam assustados."

Para o procurador-regional eleitoral substituto, Pedro Barbosa Pereira Neto, é natural que a Justiça seja acionada com a proximidade da campanha. "Geralmente, o que tem mais no primeiro semestre são representações contra campanha antecipada, que acabam acarretando em multas para os partidos", afirmou.

Julia Duailibi - O Estado de S.Paulo

/ COLABOROU VERA ROSA

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Serra e Dilma reforçam ofensiva em programas populares de rádio e TV

Dois meses antes de formalizar as candidaturas nas convenções partidárias, os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) lançaram-se em uma agenda de viagens e entrevistas digna de quem está em plena campanha. Programas de TV populares e rádios regionais são os meios preferidos para atingir o eleitorado.

Empenhada em vestir o figurino da simpatia desde que deixou o governo, Dilma fará incursões pela televisão nos próximos dias. Na agenda da petista constam entrevistas ao Programa do Ratinho, no SBT, e ao Brasil Urgente, comandado por José Luiz Datena, na Rede Bandeirantes.

O PT está acertando com Datena uma superprodução, na qual Dilma deve entrar em um helicóptero para sobrevoar São Paulo, a maior cidade do País, justamente onde seu desempenho ainda está aquém das expectativas, segundo as pesquisas.

Foi no programa de Datena que Serra - então governador de São Paulo e hoje pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto - admitiu pela primeira vez sua entrada no páreo para concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Serra percorre, desde segunda-feira, um circuito de emissoras de rádio, a começar pela Jovem Pan e Bandnews, em São Paulo. Na terça, falou à Rádio Sociedade, em Salvador, e à Rádio Jornal, do Recife. Ontem, deu entrevistas às rádios Arapuã e Paraíba Sat, ambas em João Pessoa, e participou do programa Debate com Paulo Lopes, na paulista Capital AM. À noite, deu mais uma entrevista, à Rádio Metrópole, de Salvador.

"Esse modelo vai se repetir bastante durante a campanha", admite o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), um dos articuladores da campanha no Nordeste. Como governador, o tucano já vinha investindo no público de baixa renda, participando dos programas de auditório mais populares da TV brasileira, entre os quais os das apresentadoras Hebe Camargo e Luciana Gimenez, além do principal concorrente de Datena, Ratinho.

Dilma também tem dado entrevistas às rádios locais por onde passa. Neste mês, falou à Itatiaia, de Belo Horizonte, e à Verdes Mares, de Fortaleza, além da Jovem Pan e da Capital, em São Paulo.

Legislação. A estratégia de buscar exposição em programas de rádio e televisão foi a maneira encontrada pelo comando da campanha petista para contornar as restrições impostas pela lei eleitoral. A avaliação do time petista é de que, diante do impedimento de pedir votos abertamente nas ruas antes do início de julho, quando a campanha começa de forma oficial, as entrevistas são a maneira mais eficiente de expor a ex-ministra da Casa Civil a uma fatia mais ampla do eleitorado.

O comando da campanha do PT avalia que a participação de Dilma em programas populares na TV - como os de Ratinho e Datena - e também em emissoras de rádio é "essencial" para a candidata estabelecer uma "comunicação direta" com o eleitor. Sob o argumento de que jornais editam as declarações de Dilma e muitas vezes "distorcem" suas palavras, a preferência dos petistas é por entrevistas ao vivo.

Desconhecimento. Além de reconhecer que Dilma está em forte desvantagem em relação a Serra quando o assunto é o conhecimento dos eleitores, como demonstram os resultados das pesquisas eleitorais, petistas admitem que Serra acertou ao admitir pela primeira vez os planos de se candidatar em entrevista a Datena, no mês passado. Dilma, por sua vez, adotou progressivamente o discurso de candidata, até formalizar sua intenção de concorrer no Congresso Nacional do PT, no fim de fevereiro.

A data da participação da petista no programa de Datena ainda não está marcada. A negociação da pré-candidata está mais avançada com o Programa do Ratinho. Ela concederia ontem, no fim da tarde, uma entrevista ao vivo. Acabou pedindo o adiamento para o dia 29, às 18 horas, alegando problemas de agenda.

Ontem em São Paulo, Dilma jantou na casa da apresentadora Ana Maria Braga, que comanda o Mais Você, um programa matinal de variedades da TV Globo.

Segundo a equipe da apresentadora, o objetivo era apenas organizar um "jantar entre amigas, sem qualquer conotação política". As duas se aproximaram na época em que Dilma, então ministra da Casa Civil, foi diagnosticada com um câncer no sistema linfático. Ana Maria Braga também lutou contra a doença em 2001.


Em rede nacional

José Serra
Depois de lançar sua candidatura, informalmente, no programa Brasil Urgente, o tucano concedeu entrevista a seis rádios. Na segunda-feira, em São Paulo, foi entrevistado pela Jovem Pan e Bandnews. Anteontem, deu entrevistas às rádios Sociedade, em Salvador, e Jornal, em Recife. Ontem, às rádios Arapuã e Paraíba Sat, em João Pessoa
2
Dilma Rousseff
Na semana passada, a petista deu entrevista às rádios Jovem Pan, de São Paulo, no dia 5; Itatiaia, de Belo Horizonte, no dia 7, e Capital (SP), no dia 9. Anteontem, falou à Rádio Verdes Mares, de Fortaleza. Ontem, jantou com a apresentadora Ana Maria Braga, da Rede Globo. No dia 29, ela deve participar do Programa do Ratinho, do SBT.

Vera Rosa, Adriana Carranca, Clarissa Oliveira e Tiago Décimo - O Estado de S.Paulo

domingo, 11 de abril de 2010

O Manifesto de Juan Hoyos à comunidade de Ciências Sociais

Universidade Federal do Pará – UFPA
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH
Faculdade de Ciências Sociais – FCS
Eleição de Diretor e Vice-Diretor da FCS – 2010/2012
“AVANÇAR: CO-GESTÃO, COM UNIDADE E QUALIDADE”

MANIFESTO À COMUNIDADE


A FCS embora trate da sociedade necessita urgentemente se re-encontrar com ela posto que, hoje – agora, com muita força se reivindica a retomada de esforços conjuntos para consagrar a faculdade como referência nas diferentes áreas do conhecimento científico e social em que atua; apresentá-la comprometida com novas idéias e ações e, aberta a novos desafios; sem receio de dar respostas ousadas para atender novas questões que o futuro nos apresenta; que esteja sempre pronta a se auto-avaliar e se criticar; que não veja o tripé do Ensino, Pesquisa e Extensão como uma obrigação e sim, como um modo de levar adiante uma gestão compartilhada com participação interna e direta da comunidade e da sociedade civil.

No ideário programático da Chapa “Avançar: co-gestão unidade com qualidade” procura-se retratar compromissos, com a intenção de se discutir propostas que nele estão contidos e que surgiram como resultado do balanço crítico dos estilos e das ações de gestão praticadas no transcurso dos últimos 20 anos, seja nos antigos departamentos, colegiados ou na Faculdade de Ciências Sociais – FCS, de hoje. No documento foram, igualmente, incorporadas contribuições que afloraram de diálogos e debates celebrados com os diferentes segmentos da comunidade do FCS e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH e se apresentam como capazes de aprofundar as conquistas de todos, avançar na implementação do projeto estratégico de desenvolvimento e avaliar, à luz do momento histórico e dos desafios que se avizinham, a missão institucional da FCS e do próprio IFCH.

Igualmente, nele, com maior grau de importância registra-se que a universidade de hoje está sendo exigida pela nação para assumir compromissos urgentes e definidos com o desenvolvimento, com a cultura e com a sobrevivência dos nossos povos. Neste sentido, somos cobrados para dar conta da excelência das nossas pesquisas, da categoria e qualidade da graduação e da pós-graduação, ao tempo que de atividades de extensão cada vez mais próximas da sociedade.
Estamos certos que as proposições registradas no Documento - Programa da Chapa “Avançar: co-gestão unidade com qualidade” poderão ser enriquecidas. Como, igualmente, estamos convictos de que objetivam a melhoria das pessoas, dos métodos e dos espaços para produzir e compartilhar novos conhecimentos, para promover uma verdadeira interação da academia com a sociedade real, com o serviço aos cidadãos e com a formulação de políticas de estado e práticas de governo comprometidas com os valores éticos, de respeito à pessoa humana, aos direitos coletivos e ao desenvolvimento econômico, político, social e cultural de nosso povo.
As propostas evidenciam, certamente, o convencimento de que precisamos de gestores que sejam, realmente, pluralistas e democráticos, que não integrem nem fomentem cegamente o fortalecimento de grupos corporativos ou redes de subserviência. Aos antigos sonhos somam-se, agora, novos anseios. Serenos, equilibrados, racionalizados e refletidos que projetem cenários e a superação de urgentes desafios institucionais. O presente é de reflexão e nos impele à ação.
Na gestão da FCS a chapa Chapa “Avançar: co-gestão unidade com qualidade” cuidará de manter e incrementar o corpo técnico-administrativo, já que eles são capazes de incentivar os diálogos que resultem em contribuições institucionais. Procurará sermos uma Faculdade que conhece, sabe e pratica o diálogo, que é capaz de ser solidária, que cultiva a aceitação da diferença como direito e que encara a margem como lugar a respeitar.
A nova gestão irá, igualmente, incentivar a busca de condutas institucionais para atender as expectativas da comunidade interna e da sociedade. Em conjunto iremos mobilizar abertamente pessoas e a instituição para construir e escolher qual tipo de futuro se deseja e quais ações de gestão devem ser encetadas. Os novos dirigentes vão atuar com imparcialidade, liberdade e autonomia, e rejeitar qualquer interferência de interesses que não os públicos; cuidarão do agir de forma técnica, competente, responsável, imparcial, coerente e objetiva; e, buscarão a excelência concentrando seus esforços na maximização dos resultados, no compromisso de legitimar as FCS perante a sociedade através da qualidade do nosso trabalho, da competência dos profissionais que formamos, da importância social da pesquisa que realizamos, da criatividade e da inovação, da permanente descoberta, e do profícuo trabalho social que implementamos através de projetos na comunidade externa, principalmente carente.

Como integrantes de uma comunidade universitária séria e pautada pela ética e o compromisso com o saber, acredita-se que a Faculdade de Ciências Sociais - FCS deve de forma democrática e urgente resgatar e promover o salutar exercício de pensar, inovar e de exercer a sua função crítica, para podermos, realmente, demonstrar e evidenciar nossa competência.

Como representantes da Chapa “Avançar: co-gestão unidade com qualidade” declaramos que estaremos atentos para ajudar a demarcar a liderança da FCS, do IFCH e da UFPA na defesa dos direitos da presença nos meios de comunicação, na defesa da diversidade de concepções e vozes da sociedade civil, na defesa dos direitos à expressão da heterogeneidade cultural; na defesa dos direitos à diferença que proclamam as minorias, na defesa do direito da convivência pacífica e produtiva entre os diferentes e, na defesa dos elementares princípios da própria democracia.

Finalmente deixamos especial manifestação, clara e latente, de que os colaboradores da gestão deverão ter um histórico absolutamente inquestionável do ponto de vista da retidão de seus atos, de prática comprovada de ética e de moral respeitadas pela comunidade e pela sociedade.

Diretor: Prof. MsC. Juan L. Bardález Hoyos
Vice-Diretora: Profa. Dra. Andrea Chaves

O TEMPO É SEU. A HISTÓRIA VOCÊ FAZ. E AGORA...?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chapa ''Dilmasia'' abre crise entre PT e PMDB de Minas

Ao propor dobradinha com o governador de Minas, pré-candidata petista causou reação de Hélio Costa, também candidato à reeleição

As direções do PT e do PMDB fizeram ontem uma operação de emergência na tentativa de estancar a crise causada pelas declarações da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, que propôs uma dobradinha com o tucano Antonio Anastasia, governador de Minas e candidato à reeleição.


Dilma disse que em Minas poderia fazer o movimento "Dilmasia", uma composição com Anastasia, assim como no passado houve o "Lulécio" - Lula e Aécio.

Como a reação do ex-senador Hélio Costa às declarações de Dilma foram imediatas - ameaçou até apoiar Serra, com o movimento "Serrélio" -, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), tentou acalmar o companheiro de partido. "Não é hora de arrumar confusão. É preciso que todos se acalmem", teria dito a Hélio Costa, de acordo com um parlamentar do PMDB.

No PT ocorreu o mesmo. O presidente José Eduardo Dutra conversou com Michel Temer sobre a necessidade de evitar que a crise de Minas Gerais ganhe contornos maiores.

Dilma foi aconselhada a telefonar para Hélio Costa e dizer que, no fundo, queria pregar a necessidade de formação de um palanque único, que una PT e PMDB. Ela ligou, mas ele já tinha dado a declaração de que a candidatura da ex-ministra poderá "morrer pela boca" e que, se for o caso, vai para os braços de José Serra.

Gafes. Nesta semana, Dilma envolveu-se em duas trapalhadas políticas. Numa, ao lado do ex-governador Anthony Garotinho (PR), que lhe declarou apoio, recomendou cuidado com os "lobos em pele de cordeiro". Em outra, propôs a dobradinha com Anastasia. Nos dois momentos estava só, sem a presença de seu criador e protetor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por isso, a cúpula do partido decidiu fazer advertências à candidata. Alguns dirigentes chegaram a dizer a Dilma que ela deve ter mais cuidado com as palavras porque tudo pode ser usado "de forma maldosa" pelos adversários. Houve críticas também à aglutinação dos nomes dos dois candidatos, pois "Dilmasia" poderia remeter a "azia", "dor de estômago" e outras "maldades".

Em público, porém, coordenadores da campanha de Dilma procuraram amenizar suas declarações sobre uma parceria do PT com o governador Antonio Anastasia. "A melhor forma de os partidos da base aliada em Minas não deixarem espaço para o crescimento de um movimento "Dilmasia" é a unidade para definir quem é o candidato único a governador e quem concorrerá ao Senado", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

"Não existe vácuo na política. Enquanto só há candidato a governador do Aécio (ex-governador que deve concorrer ao Senado), os prefeitos vão ficar fazendo comitês do tipo Dilmasia. Há prefeitos do PSDB e do DEM que vão apoiar Dilma por conta da boa relação com o governo federal", insistiu Padilha.

A afirmação do ministro teve endereço certo: em Minas, o PT e o PMDB até agora não conseguiram acertar a chapa para a sucessão de Aécio. Do lado petista, tanto o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel quanto o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias querem disputar o Palácio da Liberdade. O problema é que o senador Hélio Costa também é candidato. E conta com o apoio de Lula. O presidente acha que o PT deve ceder a indicação a Costa para evitar problemas na montagem do palanque de Dilma.

"Em nenhum momento Dilma defendeu algo fora da política de alianças em Minas, pois todos sabem que somos parceiros do PMDB", disse o deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP), secretário-geral do PT.

"Foi uma brincadeira que ela fez sobre a sonoridade da expressão "Dilmasia" e alguns estão querendo extrair daí uma crise inexistente."

João Domingos e Vera Rosa - O Estado de S.Paulo

Métodos eleitorais alternativos II

* Carlos Orsi

Nos comentários à primeira parte desta série, surgiram ponderações de que a base lógico-matemática do sistema eleitoral é menos importante para a democracia do que a consciência política dos eleitores, a estrutura do sistema partidário, etc. Esses, no entanto, são assuntos em que estou evitando entrar — basicamente porque, primeiro, fogem à temática do blog; segundo, já são muito bem tratados em outros meios e publicações; e, terceiro, porque a base lógico-matemática é um tema muito pouco discutido na arena pública, e que me parece pelo menos tão importante quanto as outras questões levantadas.
Exemplos, já clássicos, dessa importância: a eleição de Jânio Quadros para prefeito de São Paulo, no século passado; e a de George W. Bush para a Presidência dos EUA, em 2000. Em ambos os casos, o sistema de “um homem, um voto” levou ao poder políticos que eram, em termos de identidade pessoal e postura programática, exatamente o oposto do que o consenso social (ou, ao menos, a maioria dos eleitores) desejava.
Enfim, não adianta ter uma população consciente se o instrumento oferecido para que essa consciência se expresse é defeituoso.
Isso estava bem claro para a primeira geração de matemáticos que criticou o sistema de votação tradicional. Tanto Borda quanto Condorcet (detalhes, mais uma vez, na postagem anterior) escreveram na segunda metade do século XVIII, quando o primeiro grande experimento democrático do mundo moderno, a fundação dos Estados Unidos da América, estava em andamento. A coincidência de datas não é, de modo algum , uma mera coincidência.
Borda ofereceu uma alternativa, a do voto por ranking, onde os candidatos receberiam pontos de acordo com a preferência dos eleitores. Mas Condorcet não ficou satisfeito com a proposta do colega, que lhe pareceu insuficiente. Para ele, o ganhador legítimo de uma eleição deveria ser capaz de derrotar todos os demais concorrentes, em confronto direto.
É como se, em vez de uma eleição entre A, B e C, fossem realizados três “segundos turnos” simultâneos: A x B, B x C, C x A. Daí sairia o “vencedor de Condorcet”. O sistema era muito complexo para o século XVIII mas, hoje em dia, com computadores, não é difícil de implementar, e é realmente usado em muitas situações. Várias comunidades online gostam de decidir as coisas pelo critério de Condorcet.
O sistema, no entanto, tem dois problemas. O primeiro é que ele pode levar a resultados altamente contraintuitivos (se a próxima eleição presidencial brasileira fosse definida no sistema de Condorcet, por exemplo, eu imagino que as chances de Marina Silva ser eleita disparariam — nada contra a candidata, menciono isso apenas porque uma vitória dela é algo tido como improvável no cenário atual).
Mas ser contraintuitivo não é ser, necessariamente, ruim. O segundo problema com o sistema de Condorcet é mais grave: ele é sujeito a ciclos. Suponha que a maioria dos eleitores prefira A a B; que a maioria prefira B a C; e que a maioria prefira C a A. Nessa situação, simplesmente não existe um ganhador de Condorcet!
O paradoxo cíclico não é exclusivo do método de Condorcet. Na verdade, o que o sistema faz é apenas evidenciá-lo. No século XX, a existência de ciclos foi incorporada a uma prova matemática, conhecida como Teorema ou Paradoxo de Arrow, a demonstração cabal de um fato que costuma ser resumido na seguinte frase: “é impossível existir um sistema de votação justo”.
Chegamos, então, ao desespero? Não perca o próximo episódio — com, talvez, uma luz no fim do túnel.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dilma arma ato para rivalizar com Serra

No dia do lançamento da candidatura tucana, petista fará 'contraponto social' com Lula e sindicalistas no ABC

BRASÍLIA
O comando da campanha de Dilma Rousseff à Presidência encomendou para o próximo sábado um ato político engrossado por seis centrais sindicais, em São Bernardo do Campo (SP), na tentativa de fazer "contraponto social" ao lançamento da candidatura do ex-governador José Serra ao Palácio do Planalto.


A ofensiva do PT de Dilma para bombardear a festa do PSDB de Serra, em Brasília, deverá contar com a ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidado de honra da manifestação organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O tema do encontro - emprego e qualificação profissional - foi escolhido com a recomendação de que era preciso juntar povo no palanque.

Emissários de Dilma, porém, procuraram dirigentes das centrais e pediram a eles que não empunhassem ali, no sindicato presidido por Lula de 1975 a 1980, a bandeira das 40 horas semanais de trabalho, para não constranger a ex-ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT.

Contrariados, representantes da Força Sindical ameaçaram levantar uma faixa provocativa, com os dizeres "Lula, 40 ou 45?". Quarenta e cinco é o número do PSDB.

"Vamos fazer passeatas pela redução da jornada de 44 para 40 horas em vários Estados, na semana que vem, e queremos conversar com Lula antes de sábado", afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. A CUT não criou embaraços.

A defesa das 40 horas, "sem redução de salários", consta das diretrizes do programa de governo de Dilma. Embora a plataforma tenha sido aprovada em fevereiro pelo 4.º Congresso do PT, o Planalto está dividido quanto à conveniência da mudança.

Na prática, o corte na jornada de trabalho é interpretado pelo governo como uma faca de dois gumes: aproxima Dilma dos movimentos sociais, mas dificulta o diálogo do PT com empresários, muitos deles aliados de Serra.

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) - cotado para vice de Dilma -, apresentou proposta alternativa, que diminui a jornada de 44 para 42 horas semanais. O projeto, porém, está empacado no Congresso.

Antes de o PT bater o martelo sobre o ato planejado para embaçar a aclamação de Serra, a equipe de Dilma chegou a cogitar a possibilidade de patrocinar um encontro sobre educação, em São Paulo. A ideia foi vetada porque integrantes do governo alertaram que o "comício" poderia soar como provocação a Serra, já que ainda há professores estaduais em greve. Em conversas reservadas, ministros argumentaram que o objetivo era "fazer contraponto, e não um confronto".

Dilma também escapou da saia-justa com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que é seu aliado e vai concorrer à reeleição. Depois de arrumar mil desculpas, ela trocou o Congresso do PR - que no sábado marcará o lançamento da pré-candidatura de Anthony Garotinho ao governo fluminense - pelo ato com Lula no ABC.

A petista vai subir no palanque de Cabral e Garotinho, mas não quis comprar briga antecipada. A superstição também falou alto: em 2006, logo após passar para o segundo turno da disputa com Lula, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB)reuniu-se com Garotinho, que lhe declarou apoio. Foi o beijo da morte: Alckmin perdeu a eleição.

Para lembrar
Partido lançou ministra em congresso

O PT lançou a candidatura de Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula em 20 de fevereiro, no último dia de seu 4.º Congresso, em Brasília. Na ocasião, o partido também aprovou documento intitulado "A Grande Transformação", com as diretrizes do programa de governo petista. Quarenta e nove dias depois, o PSDB fará encontro nos mesmos moldes para aclamar o ex-governador José Serra como candidato ao Palácio do Planalto.

Vera Rosa - O Estado de S.Paulo

Mortos no Quirguistão já chegam a 68 de acordo com o Ministério da Saúde

Protesto foi provocado por opositores do governo e causou a queda do presidente Bakíev

MOSCOU - Ao menos 68 pessoas morreram e mais de 520 ficaram feridas nas manifestações antigovernamentais ocorridas na quarta-feira, 7, na capital do Quirguistão, Bisek, e que foram reprimidas violentamente pelas autoridades locais, segundo informou nesta quinta-feira, 8, o Ministério da Saúde.

De acordo com um porta-voz do Ministério, até o momento somente 33 cadáveres foram identificados. Por sua vez, o opositor Omurbek Tekebáyev, ex-presidente do Parlamento, afirmou que o número de mortos ultrapassa a barreira dos 100.

A dirigente opositora Rosa Otunbáyeva assumiu nesta quarta-feira o poder no Quirguistão, após a derrubada do presidente Bakíev, que abandonou a capital e se encontra em sua residência em Osh, sua cidade natal.

Centanas de pessoas se encontram na manhã desta quinta-feira em frente a Casa Blanca, a sede da presidência, onde existe uma grande movimentação, mas o trabalho do governo está paralisado, segundo informou Bisek à agência russa Interfax.

Estadão

Saiba mais sobre o Quirguistão

O Quirguistão é uma ex-república soviética montanhosa localizada no centro da Ásia, e faz fronteira com a China, o Casaquistão, o Usbequistão e o Tajiquistão. O território soma 200 mil quilômetros quadrados, sendo pouco maior que o Estado do Paraná.

População

Cerca de 5 milhões de pessoas vivem no país, sendo 65% quirguizes, 14% usbeques, 13% russos e o restante composto por minorias.

Economia

Majoritariamente agrícola, o Quirguistão tem mais da metade da população vivendo abaixo da linha de pobreza e é o país mais pobre da Ásia Central.

Importância Regional

O Quirguistão faz parte da rota do envio de ajuda e tropas para os militares que combatem o Taleban perto do Afeganistão. Os EUA abriram uma base no país em 2001 e a Rússia inaugurou uma base aérea em 2003. O país também é visto como um ponto relativamente estável na volátil região em que está situado.

Razões para a violência

O presidente Kurmanbek Bakiyev subiu ao poder após protestos de 2005 conhecidos como a Revolução da Tulipa, que forçaram seu antecessor, Askar Akayev, a fugir. Bakiyev, porém, manteve uma política autoritária e sacrificou padrões democráticos para manter a estabilidade do país. Além do descontentamento com a gestão do presidente, a oposição se irritou com o gradativo aumento do preço de serviços básicos.

O Estadão

Projeto proíbe corte de serviços públicos básicos

BRASÍLIA
Projeto de lei aprovado ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado proíbe a interrupção abrupta do fornecimento de energia elétrica, água e outros serviços públicos, como telefonia, para famílias de baixa renda, casas de saúde e hospitais, escolas, presídios e centros de internação de adolescentes, ainda que estejam inadimplentes. A proposta é terminativa na Casa e segue para a Câmara.


"É preciso a manutenção mínima das atividades realizadas e a saúde das pessoas atingidas", defendeu o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), autor do projeto. "Não se pode admitir que a saúde pública seja colocada em risco em razão do corte abrupto de serviços púbicos, como os de fornecimento de água, energia elétrica e telefonia em relação à área da saúde e às instituições de ensino", afirmou o relator da matéria, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Aviso prévio. Valadares explicou que, para os consumidores que não se enquadram nos estabelecimentos com proibição de corte de luz, a proposta torna obrigatória a notificação prévia - com pelo menos 30 dias de antecedência - do corte do serviço e o detalhamento ao consumidor do valor consolidado do débito, das parcelas que compõem a dívida. "Também antes do corte será preciso oferecer ao usuário oportunidade de parcelar a dívida", disse o senador.

Valadares tentou ainda, pelo projeto, evitar que os inadimplentes tivessem seus nomes levados aos órgãos de proteção ao crédito. Mas Jucá, relator da proposta, recusou a proibição de registro, alegando que os cadastros de inadimplentes desempenham papel fundamental na proteção ao crédito. "Trata-se de mecanismo de grande importância para o desenvolvimento da economia do País", defendeu.

Com isso, Jucá atendeu a uma observação, feita via emenda, do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que justificou: "A inclusão de anotação de inadimplentes nos bancos de dados de proteção ao crédito visa proteger os futuros concedentes, evitando o aumento do risco de novo débito e contribuindo para a redução das taxas de juros".

Ana Paula Scinocca - O Estado de S.Paulo

terça-feira, 6 de abril de 2010

Presidente do PSDB reage a Dilma e cobra 'biografia do tesoureiro do PT'

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), aceitou desafio da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de trazer o debate ético para a campanha eleitoral. Ele cobrou da ex-ministra que começasse esclarecendo o "dossiê dos aloprados", o mensalão do PT e a biografia do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

O caso dos "aloprados" - conforme a definição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - está ligado ao falso dossiê de corrupção que seria usado contra candidatos tucanos nas eleições de 2006. O PSDB também quer explicações sobre o caso Bancoop, a cooperativa habitacional que deu calote em vários associados e que era dirigida por Vaccari.

Em entrevista publicada ontem no Estado, a ex-ministra disse que o PT não se assusta com a discussão ética proposta feita pelo pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ao fazer balanço de sua gestão em São Paulo. "Esse debate é muito bom para a gente", afirmou a petista.

Cheque. "Temos que conhecer melhor a biografia do Vaccari, que, na condição de tesoureiro do PT, assina o cheque para pagar o aluguel da casa da candidata", afirmou Guerra. "Esse discurso de desonestidade intelectual é marca registrada deles", reagiu o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

Como Dilma questionou a competência de Serra à frente do Ministério do Planejamento, no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos saíram em defesa de seu pré-candidato. Para o PSDB, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é versão piorada do Avança Brasil, que começou a ser desenvolvido na gestão de Serra, batizado de Brasil em Ação. "Esse conceito, completamente correto e estratégico, foi abandonado pelo populismo eleitoral do PAC da ministra, que não tem nem cronograma nem realização; só tem propaganda", disse Guerra.

A oposição entende que "a mãe do PAC" deve explicações sobre as "graves irregularidades" apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em várias obras do PAC, como a refinaria Abreu e Lima. Para o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), o PAC não é bem planejado, uma vez que sua execução é baixa. Ele afirmou que o Planejamento não é atividade-fim, diferentemente da Saúde onde a gestão Serra apresentou resultados concretos.

Planalto. Após a primeira reunião do presidente Lula com os dez novos ministros, o governo deu uma demonstração de que não vai deixar sem resposta os ataques da oposição. O escalado para isso foi o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que saiu do encontro repetindo o discurso de Dilma.

"O PSDB e o DEM não têm moral para vir falar sobre tema ético do governo do presidente Lula. Temos o que mostrar sobre a aliança PSDB e DEM". Padilha acrescentou: "Se os tucanos quiserem fazer o debate ético, é ótimo. Queremos enfrentar esse debate sobre a ética. Temos o que mostrar, o que o nosso governo fez no combate à corrupção, na Controladoria-Geral da União, na Polícia Federal, e o que foi feito pelos governos anteriores."

A primeira parte da reunião ministerial foi aberta para que o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, apresentasse a cartilha sobre como todos devem se comportar nas eleições para evitar problemas com a Justiça. Lula aproveitou para determinar que a AGU mantenha um canal aberto para que ministros possam consultá-la caso tenham dúvidas.

Depois de Adams, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em tom professoral, lembrando sua experiência no Tribunal Superior Eleitoral, advertiu os colegas sobre os cuidados que devem ter neste período por causa da falta de clareza da legislação, que permite cada juiz interpretá-la à sua maneira. A advertência de Jobim foi tão forte que o vice-presidente José Alencar, com seu jeito mineiro, reconheceu que "é preciso ter cautela". Mas Alencar avisou aos novos ministros, tentando tranquilizá-los, que não podem ter medo: "Tem de enfrentar a campanha porque, se ficar com medo, não tem campanha."

Christiane Samarco, Eugênia Lopes - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA

Candidato que quer ganhar eleição tem de cuidar da inflação

* Celso Ming

Ontem, em entrevista à Globo News, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, seguiu dando suas explicações sobre as razões que o levaram a permanecer à frente do BC e, nesse bolo de explicações, entendeu que tinha de dizer que sua contribuição para o que chama de responsabilidade eleitoral é trabalhar para derrubar a inflação.

Independentemente das verdadeiras razões que influenciariam o destino político de Meirelles, o que vale a pena examinar é o quanto a inflação de fato pesa nas decisões do eleitor na hora de escolher seus dirigentes.

Curiosamente, o combate à inflação no Brasil não é tema de campanha eleitoral. Nenhum candidato vai à TV ou ia antes aos palanques para alardear que é contra a inflação e assim se tornar merecedor do voto do eleitor. Ao contrário, afirmar ser a favor da alta dos juros é, em princípio, um destruidor de carreiras políticas.

No entanto, a inflação pesa, sim, na decisão do eleitor. Sempre que há perda relevante de poder aquisitivo, sempre que os sonhos de consumo não se realizam, o eleitor se predispõe a votar contra o governo.

E, ao contrário, sempre que tem a percepção de que sua renda não é corroída pelo aumento geral de preços, o eleitor tende a aceitar de bom grado as razões dos candidatos do governo.

Foi esse o principal fator que elegeu o presidente Fernando Henrique em 1992 e foi esse o principal fator que reelegeu Lula em 2006.

Não dá para dizer que a permanência de Meirelles à frente do Banco Central se deva a considerações desse tipo, porque ele não as levou em conta na sua tentativa de candidatar-se. Mas que têm lógica, têm sim. Candidato que quer ganhar as eleições tem, sim, de cuidar de controlar a inflação.

Estadão

Eu e a Bolha

* Paul Krugman

Alguns leitores pediram provas de que eu tenha visto a bolha da habitação; outros estão usando fora de contexto a observação a respeito da “necessidade” de o Fed criar uma bolha da habitação. Então uma retrospectiva mostrará o seguinte:

Eu alertei a respeito de uma bolha da habitação durante grande parte de 2005; o grande artigo foi aquele intitulado Aquele som sibilado, em que argumentava que é preciso diferenciar as várias regiões a fim de se ter uma ideia de toda a extensão da bolha.

É claro que os suspeitos de sempre me desancaram por causa daquela coluna, argumentando basicamente que ela só mostrava o ódio por Bush.

Então acaso eu pedi uma bolha? A citação é deste artigo de 2002, no qual eu estava pessimista quanto à capacidade do Fed de gerar uma economia sustentada.

Se vocês o lerem dentro do seu contexto, verão que eu não estava pedindo uma bolha – estava falando dos limites dos poderes do Fed, dizendo que a única maneira de Greenspan conseguir uma recuperação seria se ele pudesse criar uma nova bolha, o que NÃO é a mesma coisa que afirmar que fosse uma boa ideia.

Evidentemente, sei que essa explicação não impedirá que aqueles que gostam de despejar o seu ódio usem a mesma afirmação fora de contexto não sei quantas vezes mais.

Mas eu pedi juros menores? Sim. Na minha opinião, não é este o erro do Fed. Nós precisávamos de uma melhor regulamentação a fim de conter a bolha – e não uma política que sacrificasse a produção e o emprego para limitar a exuberância irracional. Vocês podem discordar se quiserem, mas isso não me tornará uma pessoa que procurou deliberadamente uma bolha.

Bom, só para esclarecer as coisas!

Estadão

segunda-feira, 5 de abril de 2010

''O debate centrado na ética é muito bom para a gente''

Em sua primeira entrevista depois de sair do governo, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ao Estado que o PT não se assusta com a discussão da questão ética - conforme proposto pelo José Serra, pré-candidato do PSDB, ao fazer um balanço de sua gestão em São Paulo. "Esse debate é muito bom para a gente", afirmou, dando como exemplo "tudo o que foi feito" nas operações da Controladoria-Geral da União com a Polícia Federal. "Se teve um governo que levantou o tapete, foi o governo Lula. Antes não apareciam denúncias, porque ninguém apurava."


Sem citar nomes, ela criticou a atuação da Procuradoria-Geral da República durante o governo Fernando Henrique. "Acabamos com a figura do engavetador-geral. Onde está o engavetador? A União não engaveta mais nada", disse ela. "Nos sentimos muito à vontade em fazer essa discussão."

Dilma reconheceu as falhas no sistema de saúde e propôs aumentar os investimentos em educação. Disse que os rivais terão de mostrar propostas para o País não ficar estagnado: "O Serra que me desculpe, mas ele não foi só ministro da Saúde. Foi ministro do Planejamento. Planejou o quê, hein?"

A petista concedeu a entrevista de improviso, ao ar livre, ao final de uma caminhada pelo Parque da Península dos Ministros, no Lago Sul, bairro onde mora. Ela foi para lá, dirigindo seu carro, um Fiat Tipo, ano 1995, com placa de Porto Alegre. Só tinha a companhia de Nego, seu labrador preto. Desde que deixou a Casa Civil, na quarta-feira, Dilma caminhou todos os dias. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O presidente Lula disse que espera que seu sucessor faça mais pela educação. Qual sua meta para o setor?

Ele tem toda razão. Ele construiu um alicerce. Vamos ter que aumentar ainda mais os investimentos.

Hoje, o investimento não chega a 5% do PIB. Educadores sonham com 7%. É possível investir 10%?

Não vou dizer porcentual porque não sou doida, mas dá para aumentar progressivamente os investimentos. Não podemos esquecer que teremos recursos da exploração do pré-sal.

Mas a proposta de investir o dinheiro do Fundo Social do pré-sal em educação encontrou resistência no Congresso. Os partidos querem repassar os recursos para outros setores.

Aí não está certo, distorce o que pode ser o nosso passaporte para o futuro. Apostar na educação não é só uma questão de inclusão e dar suporte à inclusão social. Temos que investir em educação para sermos de fato um país de liderança mundial.

No debate sobre saúde, a senhora não teme enfrentar José Serra, que é um ex-ministro da área?

Não tivemos na saúde, nos últimos 30 anos, um momento tão propício, como agora. Demos um grande salto quando estruturamos o SUS (Sistema Único de Saúde), ninguém pode negar. O SUS de um lado garantia a atenção básica e a partir de um certo momento, as unidades básicas de saúde, com saúde da família, que atendem a gestantes, crianças e aqueles que têm doenças como diabetes, hipertensão. E tinham os hospitais. Neste processo, entre as unidades e os hospitais não tinha nada, não tinha a média complexidade. Uma pessoa ficava em filas e filas. Isso não foi resolvido por ninguém. Acho que o grande passo foi dado com as UPAs, as Unidades de Pronto Atendimento, que garantem atenção 24 horas por dia e impedem que a fila se dê no hospital, transfere o atendimento de urgência e emergência para essas unidades. As UPAs, que estão programadas para uma população de 100 a 200 mil, chegando a 300 mil, têm níveis de cobertura diferenciada. Em vez de ir direto para o hospital, uma pessoa que teve um ataque cardíaco segue para uma UPA. A unidade faz a prevenção, dispensando a fila no hospital. Se o ferimento ou o problema não for grave pode ser tratado ali.

Mas a realidade ainda é outra...

Acho que vamos mudar esta realidade. O pessoal tem toda a razão quando se queixa. Não tinha fila no INSS? Nós não falamos que íamos acabar? Acabamos. Vamos mudar a situação da saúde.

José Serra saiu do governo de São Paulo com um discurso focado na questão ética. Pode prevalecer esse debate no processo eleitoral?

Esse debate é muito bom para a gente. Pode olhar tudo o que foi feito. Nunca se esqueça que foi a CGU quem descobriu a máfia dos sanguessugas. Tudo foi feito pela CGU, combinado com a Polícia Federal. Se teve um governo que levantou o tapete, foi o governo Lula. Antes não apareciam denúncias, porque ficavam debaixo do tapete, ninguém apurava. Estava vendo, outro dia, um levantamento da CGU que mostra que as principais descobertas e investigações neste governo foram de casos que ocorreram em governos anteriores. A apuração das denúncias levantadas pela Operação Castelo de Areia é um caso. E acabamos com a figura do engavetador-geral. Onde está o engavetador? A União não engaveta mais nada. Nos sentimos muito à vontade em fazer essa discussão. Agora, se me perguntarem se isso rende frutos, acho que não rende. Eles pensaram que ia render em 2006. Acho que eles não podem ter só esse discurso. Vão ter que mostrar qual é a proposta para o Brasil não viver estagnado. O Serra que me desculpe, mas ele não foi só ministro da Saúde. Foi ministro do Planejamento. Planejou o quê, hein? Ali, se gestou sabe o quê? O apagão. O apagão que eu falo é o racionamento. Porque o pessoal usa um pelo outro. Racionamento é ficar oito meses sem energia.

A senhora trabalha para estar no mesmo palanque de Ciro Gomes ainda no primeiro turno?

Tenho uma relação muito forte com Ciro. Por conta do fato de termos sido ministros no primeiro mandato do presidente Lula. Foi uma época muito difícil, havia muita tensão, muitas acusações. O Ciro foi um companheiro inestimável. Ele pensa semelhante a todo o projeto do governo. Agora, o que ele vai fazer só ele pode dizer. Não tem como fazermos suposições sobre qual é o caminho político do Ciro.

O País ficou 21 anos sob ditadura e, há 25 anos, não tem direito oficialmente à memória dos tempos do regime militar. A senhora já disse que não aceita o revanchismo. Há condições para abrir os arquivos militares?

Não tem revanchismo em relação à memória. Fizemos todas as tratativas na Casa Civil, quando mandamos ofícios a todos os órgãos arquivistas existentes na República. Pedimos que entregassem os arquivos. Foi dito que tinham sido queimados. Então, que se apresentassem as provas. A Aeronáutica entregou a parte do arquivo. As demais Forças disseram que não existem arquivos. O que pudemos fazer, nós fizemos.

Se a senhora for presidente, vai abrir o arquivo do CIEx, órgão de inteligência do Exército?

O Brasil está bastante aberto. Depende do que vai ocorrer daqui para frente. O aperfeiçoamento da democracia não é uma coisa que se faz de uma vez por todas. Faz a cada dia. É um processo de consulta a pessoas.

Há clima favorável ao fechamento de um ciclo, à abertura do arquivo?

Acho que esse ciclo está consolidado, bastante consolidado.

Qual a proposta da senhora para as Forças Armadas?

O Plano de Defesa que fizemos foi uma das melhores coisas do governo Lula. Um país deste tamanho tem de aparelhar e valorizar as suas Forças Armadas, tem de ter uma estratégia de defesa. É preciso estar presente na nossa imensa costa, até porque temos a questão do pré-sal, e daí a importância dos submarinos.



PRESTE ATENÇÃO

Mensalão
A ex-ministra afirma que o debate ético não assusta o PT, mas, no primeiro mandato do presidente Lula, o partido foi abalado por um dos maiores escândalos da história republicana, o caso do mensalão. Quarenta pessoas foram denunciados ao STF, entre elas os principais dirigentes petistas à época, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente da legenda José Genoino.

Sanguessugas
A Operação Sanguessuga, lançada pela PF em 2006, revelou que as fraudes nas licitações na saúde começaram em 2001, na gestão do então ministro José Serra. O PT e o atual governo, no entanto, ficaram constrangidos quando a própria CGU revelou que em 2004 havia alertado o então ministro Humberto Costa, sobre a existência da máfia. Costa só se pronunciou sobre o caso quando a PF estourou com estardalhaço o esquema. A CPI instalada para investigar as denúncias pediu a cassação de 64 parlamentares aliados do governo Lula e oito da oposição.

Saúde
Quanto à política de saúde, o próprio presidente Lula reconhece em conversas internas que se trata de um ponto fraco de seu governo. Desde o primeiro mandato, ele se queixa dos ministros que ocuparam a pasta durante seus dois mandatos: Humberto Costa, Saraiva Felipe e José Gomes Temporão. Ameaçado de perder o cargo no ano passado, Temporão raramente é convidado pelo presidente para eventos pelo País. Na avaliação de Lula, o ministro - apadrinhado pelo governador do Rio. Sérgio Cabral (PMDB) - não conseguiu construir uma marca forte no setor.

Educação
Nos palanques, Lula gosta de dizer que foi o presidente que mais construiu escolas técnicas e universidades. A educação no Brasil, porém, pouco mudou. Em 2001, o presidente FHC vetou o trecho do Plano Nacional de Educação, aprovado pelo Congresso, que previa investimento de 7% do PIB no setor. Lula nada fez para derrubar o veto. Estima-se que os gastos das três esferas de governo na área sejam de cerca de 5%. O Unicef recomenda investimento de 8%. Houve, nas estatísticas oficiais, ligeiro aumento nos gastos em educação, de 3,9% no final do governo FHC para 4,6% em 2008.

O Estado de S.Paulo

Contando Neurônios

Quantos neurônios você acha que tem no cérebro? (além do Tico e Teco, claro….)
1 milhão? 10 milhões? 1 bilhão? 100 bilhões? Depende da cabeça de cada um?
Se você não sabe a resposta, não se preocupe. Não é por falta de neurônios. Na verdade, nem os cientistas sabem a resposta.

A prova disso está no título do livro do neurocientista Roberto Lent, da Universidade Federal do Rio Janeiro. A primeira edição, lançada no ano 2000, chamava-se Cem Bilhões de Neurônios. A segunda edição, lançada no mês passado, chama-se Cem Bilhões de Neurônios? (com ponto de interrogação)
A interrogação desse título é bastante simbólica da nossa relativa ignorância sobre o cérebro, da capacidade da ciência de fazer suposições, de errar e de se corrigir (ou admitir sua ignorância) quando necessário. O título original, sem o ponto de interrogação, era compatível com o que diz a literatura científica sobre o cérebro humano. Vários livros de neurociência usam esse número de 100 bilhões.
Foi assim até que uma colega de Lent na UFRJ, a também neurocientista Suzana Herculano-Houzel, lhe perguntou: Qual é a evidência científica desse número? Ou, em outras palavras: Alguém já parou mesmo para contar esse negócio célula por célula? Lent, então, descobriu que a resposta era não, ninguém tinha feito essa conta de fato. Era só uma estimativa (bem fundamentada, mas, ainda assim, uma estimativa)
Ele e Suzana, então, resolveram contar o negócio pra valer. Inventaram um técnica que “dissolve” o tecido cerebral e deixa para trás só uma “sopa” de núcleos celulares. Cada célula tem um único núcleo, então contar núcleos é o mesmo que contar células.

Fizeram isso com cérebros de roedores, depois de macacos e, por fim, com cérebros de cadáveres humanos numa faixa etária de 50 a 70 anos. Chegaram a um número médio de 85 bilhões de neurônios por cérebro humano. Próximo dos 100 bilhões, mas não exatamente. Será que esse número varia entre idosos e crianças, homens e mulheres? Só mesmo dissolvendo mais cérebros para descobrir…… Por enquanto, o ponto de interrogação permanece.

Uma curiosidade: As pesquisas de Lent e Suzana revelaram que 80% dos neurônios no cérebro não estão no córtex cerebral (a massa cinzenta maior, parecida com uma noz), mas no cerebelo, uma estrutura bem menor que fica na base posterior do cérebro e está relacionada principalmente ao controle motor do corpo. Mas será que é só isso mesmo? Com tanto neurônio lá, talvez seja mais do que isso….
Resumo da história: Nosso cérebro ainda tem muito o que aprender sobre si mesmo. Imagine só!
Abraços a todos.

Estadão

Rússia pode vender até US$ 5 bilhões em armas para a Venezuela

Comércio de armas entre os dois países já passou de US$ 4 bilhões desde 2005

Agências de notícias russas reproduziram a fala do Primeiro Ministro Vladimir Putin que afirma que as exportações de armas para a Venezuela podem chegar a 5 bilhões de dólares.

Putin, que havia visitado a Venezuela no final da semana passada com o intuito de promover maior comércio entre os dois países, não havia dado maiores informações sobre as discussões sobre a venda de armas.

Já nesta segunda, o primeiro ministro divulgou que a compra de armas russas por parte da Venezuela pode alcançar US$ 5 bilhões sob o novo acordo.

Na última sexta-feira a Rússia concordou em emprestar até 2,2 bilhões de dólares para o novo acordo sobre o comércio de armas.

O governo de Hugo Chavez já comprou mais de US$ 4 bilhões em armamento russo desde 2005, incluindo helicópteros, jatos militares e 100 mil rifles Kalashnikov.

O acordo sobre comércio de armas com a Venezuela é um dos muitos pontos de tensão na relação Rússia-EUA.

O Estadão