ATENAS - As principais bolsas de valores de todo o mundo viveram um dia de profundo nervosismo, com quedas anormais dos índices dos pregões, arrastadas pelos temores de que, mesmo com a aprovação de um pacote de medidas de austeridade pelo parlamento grego, o governo do primeiro ministro George Papandreou seja obrigado a retroceder, devido aos protestos que se alastram pelo país.
Nesse caso, a ajuda seria suspensa e o país se veria obrigado a declarar incapacidade de pagamento (default) da dívida
A violenta queda dos mercados coincidiu com transmissão pela TV de imagens das manifestações na Grécia, com o parlamento cercado por manifestantes contrários às medidas de contenção e a violenta repressão policial que ocorreu em seguida.
Em meio a persistentes temores de uma propagação da crise grega na zona do euro, a bolsa de Londres fechou em queda de 1,52%, enquanto Paris baixou 2,20% e Frankfurt, 0,88%. A bolsa de Madri caiu 2,93% e a de Milão, 4,26%. Paradoxalmente, a bolsa de Atenas teve leve alta de 0,98%.
Na Ásia, as mesmas preocupações atingiram a Bolsa de Tóquio, que fechou a sessão de quinta-feira com uma perda de 3,27%, enquanto Xangai encerrou em queda de 4,11% e Hong Kong, de 0,96%.
No pregão da Bolsa de Valores de Wall Street, em Nova York, houve momentos de pânico, com a queda do principal índice (Dow Jones) chegando a 9%. No fechamento, entretanto, a queda baixou para 3,2% depois de movimentos que operadores classificaram como “emocionais e i ndiscriminados”.
A Bolsa de Valores de São Paulo chegou ter queda de mais de 6%, mas ao final estabilizou-se em 2,31%, em 63.414 pontos.
No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 2,84%, vendido a R$ 1,849, depois de ter subido mais de 5%, aproximando-se de R$ 1,90. A cotação é a maior desde 12 de fevereiro, quando terminou a R$ 1,859.
No mundo, o euro caiu abaixo de US$ 1,27, o menor patamar registrado desde março de 2009.
Contenção
Sob protestos das centrais sindicais, o pacote grego incluiu aumento de impostos e redução de salários, e é condição para que o país tenha acesso ao à ajuda de 110 bilhões de euros (US$ 146 bilhões) patrocinado pelas nações da zona do euro e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O projeto teve apoio de 172 deputados socialistas e de ultra-direita. Votaram contra 121 deputados da oposição de direita, do Partido Comunista e da esquerda radical. Houve três abstenções.
As medidas incluem também aumento no imposto de valor agregado (IVA), alta de 10% nos impostos sobre combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público.
A partir daí, o governo prevê que o país tenha uma contração de 4% do PIB em 2010 e 2,6% em 2011. O crescimento voltaria em 2012, com cerca de 1,1%.
O programa implica esforço fiscal de 11 pontos do PIB. Ou seja, 30 bilhões de euros em três anos (até 2013), em adição ao anunciado no programa econômico para 2010.
Os bancos europeus começaram a revelar a sua exposição à crise grega, confirmando que estão comprometidos com o país e o custo deste envolvimento foi estimado em até US$ 188,6 bilhões (141,8 bilhões de euros) .
A França é a mais exposta (53 bilhões de euros), seguida de Alemanha (40 a 45 bilhões), Grã-Bretanha (11,28 bilhões) e Holanda (8,95 bilhões).
Conjuntura gera temores de implosão da moeda europeia
O respeitado economista Nouriel Roubini, conhecido por seu pessimismo, afirmou que não se pode descartar uma implosão do euro devido ao risco de que a crise grega se alastre por toda a Europa.
“Neste momento, não se pode excluir uma implosão do euro. O efeito de contágio é uma possibilidade real não apenas para os países com mais riscos”, disse Roubini ao jornal italiano La Republica.
Intervenção
Em meio ao movimento mundial de depreciação das cotações, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-claude Trichet interveio afirmando que “a perspectiva de default (calote) na zona do euro para mim está fora de questão”.
– Nós não podemos fazer isso (reestruturar dívida). Isso teria consequências imprevisíveis para a zona do euro e outras regiões – afirmou.
No clima de instabilidade, a França vai congelar os gastos do Estado pelos próximos três anos, segundo anunciou o primeiro-ministro do país, François Fillon.
– Para os próximos três anos, está confirmado que as despesas do Estado, sem contar os gastos com juros da dívida e com pensões, serão congelados em valor", afirma o comunicado.
Os gastos públicos do país já estavam parados em termos relativos, ou seja, apenas acompanhavam a inflação.A partir de agora, as despesas nem sequer acompanharão a alta dos índices de preços, de forma que o Estado perderá poder de compra nos próximos três anos.
A medida visa a reduzir o rombo nas contas públicas , aumentado durante a crise para estimular a economia ou socorrer o sistema financeiro.
Jornal do Brasil
21:56 - 06/05/2010
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sexta-feira, 7 de maio de 2010
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