quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Derrota de Ana Júlia: A fé messiânica no secretariado executivo da Democracia Socialista-DS

Por que Ana Júlia mostrou-se surda perante os chamamentos oriundos do PT e das pessoas mais próximas?

O desenho de um governo que cometia erros centrais parecia muito claro para os analistas e para as pessoas que chegaram a estar no entorno da governadora. Por que Ana Júlia foi hipnotizada pelo núcleo duro?


Creio que a primeira resposta é de ordem psicológica. A cultura política sob a qual Ana Júlia foi torneada deu-se sob a batuta do marxismo leninismo, onde as decisões acontecem de cima para baixo, onde a hierarquia, formada a partir dos elementos mais capacitados e experientes dá a palavra final, em qualquer evento político.


Foi neste clima que Ana Júlia foi formada politicamente e no qual construiu sua cultura política. Era a executiva, ou o secretariado, normalmente formado por até 5 pessoas que tomavam as decisões centrais. Foi este modelo que Ana Júlia implantou no seu entorno. Um secretariado formado por Maurílio ( o chefe mor), Marcílio, Puty e Carlos Botelho.
Creio que o grande problema deste secretariado foi a lente com que enxergavam as ações do governo, dos partidos aliados, da base parlamentar, assim como a percepção que a população tinha do governo.


Creio que foi a lente, de conteúdo marxista leninista, quem embotou a percepção da realidade, por parte do secretariado político da governadora Ana Júlia. Vejamos como o mundo político é percebido pela lente marxista leninista. Notem bem: o secretariado jamais admitirá que usa esta lente, mas as práticas de governo, denunciam a visão de mundo que este secretariado usou no comando do governo Ana Júlia.


Vejamos o mundo político sob a ótica de um senso comum marxista leninista: 1- O objetivo primeiro do secretariado é a conquista da hegemonia política para a DS, no contexto das disputas entre as tendências internas do PT. Assim s pequena Democracia Socialista- DS- controlou sozinho 40% do governo em detrimento do PT, que só controlou 30% do governo.


2- Relação utilitária com os partidos aliados, que deveriam receber cargos e não parcela do poder de comando político do governo. O objetivo final era deixar os demais partidos desidratados no quadriênio, o sonho final deste secretariado leninista era liquidar com o poder dos demais partidos. O núcleo racional deste tipo de constructo é o uni partidarismo, indo em direção do uni- tendencismo. Este tipo de prática política chamamos em ciência política de facciosismo, ao estilo sartoriano.


3- Visão instrumental e totalmente negativa do papel do parlamento em uma democracia. A ação do governo deveria ser em duplo sentido: desmoralizar os parlamentares, tanto da oposição como da base aliada, e de outro desmoralizar o parlamento como instituição, o objetivo final da racionale marxista leninista é implodir o parlamento e progressivamente implantar modalidades de democracia conselhista. Aliás, neste aspecto, o secretariado de Ana Júlia, foi totalmente incompetente com sua ideologia, chegando em nível de exterminar o recém nascido Planejamento Territorial Participativo.


4- Os resultados negativos progressivamente obtidos pelo governo Ana Júlia e a obstinação em não aceitar ou não admitir a avaliação de que o governo ia muito mal nos autoriza a afirmar que Ana Júlia e seu secretariado habitavam um mundo paralelo e fantasioso impulsionado por lentes que emitiam sinais que só os seus cérebros do secretariado da DS captavam. Enfim, as lentes marxista-leninistas usadas para enxergar o mundo usada por Ana Júlia e seu secretariado embotaram a percepção de uma realidade candente para todos os observadores.


5- Muitos poderão dizer. Mas o Marcílio é doutor, e o Maurílio possui o título de mestre. Eu responderia, ambos tem pós graduação strictu senso em planejamento, meio ambiente e estudos dos trópicos úmidos. Os ensinamentos de política deste núcleo dirigente foi o resultado das experiências práticas no sectário movimento estudantil dos anos de 1980, embasados pelos manuais do marxismo leninismo dos gloriosos anos vividos na Organização Comunista Democracia Proletária e na Força Socialista. E estes ensinamentos. Sequer dialogam com as formulações gramscistas dos anos 30 do século XX.


Em síntese, o mundo captado pelas lentes do secretariado político de Ana Júlia pode ser uma das fontes explicativas para entendermos como o governo Ana Júlia foi conduzido ao precipício, sob os alertas dos amigos e aliados, porém a rota não foi alterada, porque o secretariado da DS não enxergou uma realidade cristalina aos olhos de todos os observadores.


Enfim, Ana Júlia, ao dar poder cego e ilimitado ao secretariado da DS, em detrimento do PT e dos partidos aliados, tornou-se sócia e autora deste desastre político no Pará.

4 comentários:

  1. É fantástico, acredite Professor eu já imaginava o desastre que seria a GESTÃO da equipe daquela senhora.
    Pois após seis meses eu comecei perceber os desmandos, a desentendimento e a falta de articulação dos cardeais em relação ao RESTO do partido.
    Eu fico muito triste pois eu fui um daqueles que fez campanha para colocá-la aonde ela está não por ela mas pelo partido. Minha primeira decepção foi em 2008 nas eleições municipais, onde eu via candidatos a vereadores do partido da tendência da mesma com exagero de recursos (carros, motos etc...), enquanto que nós não tivemos a devida atenção, pois é por ironia o partido não elegeu ninguém por falta de 100 míseros votos.
    Em síntese eu fico decepcionado pois um partido que foi forjado na luta pelos interesses sociais e sair assim de uma GESTÃO pela porta do fundo QUE VERGONHA SENHORA EX GOVERNADORA.

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  2. Apesar de "mestres" e "doutores" faltou a este "núcleo duro" leituras simples como "Quem mexeu no meu queijo"

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  3. Boa Edir!
    Falando em Cultura política, o maior desafio da política e dos políticos é implementar uma democracia participativa num pais onde as relações de mando e poder se estruturam na base da exclusão, do mandonismo, do clientelismo edo fisiologismo, dos quais o patrimonialismo é o rebento mais taludo, parafraseando a vovó. Concordo plenamente com a análise de que foi um governo pra lá de míope, isso pra não usar outros adjetivos de uma análise freudiana. Para os próximos capítulos da política no Pará precisamos estar atentos em conectar as reais possibilidades de uma nova cultura política e acima de tudo fazer o impossível: garantir a participação popular.
    Um cordial abraço professor,
    Lindomal Ferreira

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  4. É duro ter que admitir, mais é uma realidade que temos que engolhir goela abaixo.Só espero que o povo lembre bem disso, e que esta Senhora e o seu Secretariado com cabeça estudantil dos anos 80 não voltem tão cedo e permaneçam sumidos por um bom tempo.

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