Presidente fez apelo para que Hamas e Fatah se unam para retomar o diálogo de conciliação
BELÉM - No final de sua viagem aos territórios palestinos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a recente desavença entre os EUA e Israel pode ser "a coisa mágica que faltava para que se chegasse ao acordo" entre israelenses e palestinos.
"De vez em quando, acontecem coisas impossíveis. O que parecia impossível aconteceu. Os Estados Unidos tendo divergências com Israel. Quem sabe essa divergência era a coisa mágica que faltava para que se chegasse ao acordo", declarou o presidente na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, sem dar detalhes de como a discordância entre os dois países possa promover a paz no Oriente Médio.
O atrito entre americanos e israelenses começou na semana passada, durante visita a Israel do vice-presidente dos EUA, Joe Biden. Na ocasião, o Estado judeu anunciou a construção de 1,6 mil casas em Jerusalém Oriental, região de maioria árabe e reclamada pelos palestinos como a capital de seu futuro Estado. A área também faz parte do território ocupado por Israel na Guerra dos Seis dias em 1967, não reconhecido pela ONU.
Para Hillary Clinton, secretária de Estado americana, o anúncio dos assentamentos num momento em que os EUA se esforçavam para reabrir as negociações de paz entre as partes foi "um insulto".
Hamas e Fatah
Na coletiva de imprensa que deu ao lado do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, Lula também fez um apelo para que as duas facções palestinas se reconciliem.
Segundo ele, "o acordo de paz exige a participação de todas as forças", referindo-se a ruptura entre o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e o Fatah, do presidente palestino. "A Palestina não realizará seu sonho se estiver desunida", declarou Lula.
Abbas reconheceu a importância dessa união entre os dois grupos palestinos. "A união é muito importante. Precisamos assinar o acordo apresentado pelo Egito e estamos esperando que o Hamas vá ao Egito para assiná-lo", disse Abbas, em referência ao acordo entre as partes mediado pelo país africano ao longo de vários meses.
O texto, cujo principal item é a organização de eleições presidenciais e legislativas em junho, foi aprovado pelo Fatah, mas não pelo Hamas.
Palestinos x Israel
O presidente brasileiro voltou a criticar o bloqueio à Faixa de Gaza e à Cisjordânia imposto por Israel. "O bloqueio à Gaza não pode continuar. O muro da separação deve vir abaixo. O mundo não suporta nenhum tipo de muro", disse Lula.
O presidente palestino garantiu que seus compatriotas vêm cumprindo os pedidos feitos por Israel, mas que seus vizinhos não têm feito o mesmo.
"Nós concordamos com as negociações indiretas e não temos condições antecipadas. Queremos que sejam aplicadas as regras internacionais (...) Aplicamos o que nos foi pedido e Israel precisa cumprir seus compromissos, entre eles a suspensão da construção de todos os assentamentos, inclusive em Jerusalém. Não queremos nenhum outro caminho", disse Abbas.
Lula, porém, enfatizou que para se chegar à paz é preciso ouvir o outro lado, dizendo que é preciso lutar pelos direitos dos palestinos, mas sem desrespeitar Israel.
Contribuição brasileira
"Estou convencido de que novos atores poderão arejar as negociações estancadas", disse o presidente Lula, acrescentando que "o Brasil está convencido de que pode contribuir".
"Eu acho que o Brasil deve estar disposto a conversar com quem quer que seja. Não existe força política, de direita ou de esquerda, que, se puder ajudar, o Brasil não tenha disposição de conversar. O acordo de paz exige que todas as forças envolvidas participem do processo", declarou o presidente, assegurando que o governo brasileiro estaria disposto inclusive a sediar encontros as negociações.
Lula também disse na coletiva não acreditar que exista algum ser humano mais otimista do que ele. "Saio da palestina mais otimista do que cheguei", declarou.
Antes da dar a coletiva de imprensa, o presidente Lula havia participado da inauguração da Rua Brasil, em frente da sede da Autoridade Nacional Palestina, e visitado o túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004.
A próxima escala da visita do presidente brasileiro à região será na Jordânia, onde se encontrará com a família real local.
Estadão e BBC Brasil.
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